Batismo do Senhor
Is 42,1-4.6-7; Sl 28(29); Mt 3,13-17
9 de janeiro de 2023

Caríssimos irmãos e irmãs tentemos brevemente ver o que a liturgia do Batismo do Senhor hoje nos ensina sobre a oração.

A oração – seja ela uma oração de adoração, súplica ou ação de graças – é uma atividade que rasga o véu que separa a criatura de seu criador, que abre uma brecha no muro que separa o tempo da eternidade. Vivemos em um tempo em que há um ontem, um hoje e um amanhã. Mas Deus vive em um presente eterno. Por meio da oração que nos coloca em comunhão com Deus, penetramos neste eterno presente de Deus. Isso só é possível porque ele mesmo fez o caminho inverso. O Filho de Deus fez-se um de nós. Veio no tempo e no espaço. E quando Ele pôs-se a rezar, rasgou-se o véu entre o tempo e a eternidade, entre o espaço dos homens e a onipresença de Deus, e então a voz do Pai que, desde toda a eternidade, gera o seu Filho, pôde dizer, no tempo da nossa história: “Hoje”, sim, “hoje eu te gerei”.

Esta voz do Pai acompanha a descida visível do Espírito Santo sobre Jesus. Quando rezamos, ou melhor, quando nos abrimos ao dom da oração, o céu se abre e o Espírito do Pai e do Filho desce sobre nós para orar em nós, capacitando-nos a dizer: “Abba, Pai”, e então a voz do Pai também nos diz: “Tu és o meu Filho, Hoje eu te gerei”. Tornamo-nos filhos adotivos no Filho amado, o primogênito de uma multidão de irmãos e irmãs. É o batismo no Espírito e no fogo que João Batista anunciou. Batismo de fogo porque queima em nós tudo o que é estranho a esta comunhão ou que a impede. Podemos então compreender o ensinamento dos grandes teólogos da era patrística e da Idade Média, que viam na liturgia da terra uma participação na liturgia celeste. Todos os bem-aventurados que passaram da vida presente para a vida eterna louvam incessantemente a Deus em Seu eterno hoje. As nossas liturgias e os nossos ofícios aqui na terra, apesar da sua pobreza e até apesar das nossas distrações, provocam esta abertura, este rasgo que nos faz entrever o céu e nos permite, por um instante, entrar neste mesmo hoje de Deus, onde tudo é presente. E é então que, graças ao dom do nosso Batismo, nossa liturgia aqui da terra torna-se contemporânea com a liturgia celeste.

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