Mosteiro da Transfiguração, Santa Rosa-RS
Memória de São Mauro e São Plácido, patronos do Noviciado
Lc 12,32-34
Dom Martinho do Carmo OSB
Homilia proferida a 15 de janeiro de 2020

Evangelho (apropriado):

Lucas 12,32-48

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 32“Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino. 33Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. 34Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.

Homilia

Caros irmãos e irmãs, nesta memória de São Mauro e São Plácido, gostaria de meditar convosco algumas expressões do evangelho.

A primeira delas, é a habitual expressão inicial de Jesus, “Não tenhais medo”, tão necessária para dar segurança àqueles a quem o Mistério Divino será revelado. Logo em seguida Jesus nos chama de “pequenino rebanho”: uma imagem muito constante que, no Antigo Testamento, se relaciona diretamente com o Senhor que é pastor de seu Povo. O Evangelho também fala abundantemente do Pastor que é o Cristo. Mas a expressão particular deste evangelho, “pequenino rebanho”, traz uma forte carga de ternura, que nos refere muito diretamente ao “pequeno Resto de Israel” anunciado pelo Profeta Isaías (4,3; 10,20-21, etc.), que será herdeiro da salvação.

E após essa introdução toda cheia de ternura, o Senhor Jesus nos revela seu mistério salvífico partindo de uma certa oposição entre o céu e a terra, entre o temporal e o eterno, o evanescente e o inviolável. Mas, em vez de dizer, de forma negativa, “não acumuleis”, ele diz de forma positiva “vendei”, “dai esmola”, distribuí o que tiverdes à quem tem necessidade. Entretanto, ao dizer para fazermos “bolsas que não se estraguem”, Jesus certamente enfatiza a importância de um utensílio resistente o suficiente para bem preservar o seu conteúdo. Um mandamento que pode nos causar estranheza, visto que toda forma de “reserva” era proibida, como no caso do maná no deserto, ou o do “pão nosso de cada dia” que deve ser nossa única preocupação. Mas aqui, ao contrário, a reserva é apresentada como um princípio de vida eterna, e o que deve ser “armazenado” é o valor permanente de nossas atitudes. Portanto, nossos atos de caridade para com os irmãos têm valor de “tesouro eterno”. E o que é contrário a isso é apresentado pelas imagens do “ladrão” que rouba o que não é seu, e da “traça” que tudo devora e destrói.

Finalmente, há a menção do coração, lugar do amor, que se volta para aquele ou aquilo que ama. Aquele que ama a Cristo, permanece mais n’Ele que em si mesmo (cf. Jo 15,4). E isso vai muito além de uma questão do lugar em que vivemos. O amor é união, é fusão, é identificação: “Não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Por outro lado, se “meu tesouro” é terrestre, meu coração torna-se então um coração profanado.

São Gregório Magno, em seu segundo livros do “Diálogos”, conta que certa vez, enquanto São Bento estava imerso em oração, percebeu, em visão, que seu noviço Plácido, que tinha ido buscar água num lago, havia caído nele e corria o risco de se afogar. O santo abade chamou então outro noviço, Mauro, e lhe disse: “Irmão Mauro, corre porque teu irmão que foi buscar água caiu e a correnteza o carrega”. Mauro, após pedir e receber a benção, obedeceu imediatamente: correu e foi ao encontro de seu irmão Plácido que já estava no meio do lago, onde tomou-o pelos cabelos e o carregou à terra. Só então percebeu que havia caminhado sobre as águas, como o apóstolo são Pedro no lago de Tiberíades.

Assim, à luz do Evangelho de hoje, podemos concluir que o tesouro do coração de Mauro era a vida de seu irmão Plácido! E esse tesouro lhes foi comunicado pela obediência ao Santo Homem de Deus, Nosso Pai São Bento.

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