XVI DOMINGO DO TC – A (Mt 13,24-43)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

No Evangelho deste domingo damos sequência à série de parábolas iniciada no último domingo com a parábola do semeador e do crescimento da boa semente. Hoje temos outras três parábolas que falam do crescimento: crescimento do joio e do trigo, crescimento da árvore e do crescimento da massa.

Na primeira parábola, do “joio e do trigo”, como naquela do semeador, temos a garantia de que a semente plantada por Deus é boa. Mas na parábola de hoje isso é ainda mais claro, pois ainda que exista um inimigo que semeia a semente má no meio da plantação a semente boa cresce e dá fruto.

O surpreendente da parábola é que diante da insistência dos empregados para arrancar o joio, o senhor pede que deixe crescer. A parábola nos exorta a ter paciência, não querer logo arrancando o joio, mas tolerar o mal, pois podemos nos enganar e arrancar o trigo bom junto com o joio. No mundo tão polarizado em que vivemos hoje acredito que esta parábola cai como uma luva…. Temos a forte tendência de considerar todos aqueles que pensam, sentem ou vivem diferentemente de nós, como joio, que deve ser arrancado e eliminado do campo. (Nós, evidentemente, nos consideramos trigo de primeira qualidade!) Mas as coisas não são tao simples assim, pois nos falta o discernimento suficiente para distinguir bem entre o joio e o trigo. Querendo arrancar o joio, podemos arrancar junto muito trigo, além de também deixar muito joio disfarçado de trigo crescendo no meio do trigo. Portanto, é preciso ser paciente e tolerante.

Aparentemente o mal sai ganhando então…. Parece que o joio predomina em nosso meio e nos sentimos impotentes. A atitude de paciência e tolerância que a parábola pede, que reflete assim a atitude de Deus em relação a todos nós, não significa conformismo. Ao contrário, exige uma atitude ativa de confiança; confiança na força da semente boa da qual somos portadores. Significa que precisamos investir todos os esforços possíveis no cultivo do bem, crendo que ele é mais forte e que prevalecerá.

A parábola nos mostra que no final o joio não poderá mais se mascarar, será arrancado e lançado fora, enquanto o trigo, brilhante como o sol quando está maduro, será recolhido na casa do Senhor. Mas tal discernimento só se fará sob o olhar misericordioso de nosso Pai, que tudo e todos conhece.

As duas outras parábolas pretendem nos mostrar que a força do Reino de Deus, do bem, não consiste na grandeza ou no espetáculo. O mal parece sempre mais potente, mas, na realidade, é só mais barulhento, está inflado de si mesmo, contudo, é vazio por dentro, porque não tem sentido e foi vencido por Cristo.

O Reino é como uma minúscula semente de mostarda, aparentemente insignificante, mas contém vida e força suficientes para crescer e se tornar a maior hortaliça, capaz de acolher em seus ramos muitos pássaros, ou seja, muitos filhos.

É como o fermento, que fica escondido, mas é capaz de levedar e transformar a farinha misturada na água em alimento.

Temos de acreditar nisso que foi semeado em nosso coração, em nosso meio, a semente do Reino de Deus. O Espírito Santo nos habita e reza em nós, como nos diz São Paulo na carta aos Romanos (8,26-26), clama por transformação dentro de nós a cada instante. Mas é preciso dar ouvidos a este murmúrio do Espírito, que nos convida a cultivar a semente da vida que recebemos em nosso Batismo, o fermento transformador. Caso contrário, estamos adubando a terra para que o joio cresça em nosso meio com o nosso desânimo, pessimismo, maledicência. Essa é a causa do mal em nossa vida e em todo o mundo: o nosso pecado adubado pela falta de fé na força de Deus.

A partir de nós o mundo pode ser transformado. Somos nós os portadores da semente boa, do grão de mostarda, do fermento do Espírito. Tenhamos a coragem de permitir que o Espírito nos faça fecundos.  

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