SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

D. Paulo DOMICIANO, OSB

A solenidade de hoje nos coloca em sintonia com as solenidades pascais que acabamos de concluir em Pentecostes. De fato, na Quinta-feira santa celebramos a memória da instituição da Eucaristia na última ceia, onde Cristo se oferece a nós sacramentalmente e nos permite participar de seu mistério pascal.

“Fazei isto em memória de mim”. É deste mandamento do Senhor que nasce a Igreja, pois através dele somos convidados a repetir os gestos e palavras de Cristo até que Ele volte. Não se trata apenas de uma recordação de um fato perdido no passado, mas, pela ação do Espírito Santo, a celebração litúrgica é o memorial de Cristo, de sua vida, morte e ressurreição. Celebrar a Eucaristia, cumprindo este mandamento de Jesus, nos permite tomar parte em seu mistério de amor.

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Estas palavras de Jesus chocaram aqueles que o ouviam. Na verdade, elas nos chocam até hoje… Por isso tantos quiseram interpretá-las de modo figurativo, dizendo que a Eucaristia é apenas um sinal, um pão e vinho abençoados, mas não Corpo e Sangue de Cristo. Contudo, Jesus não diz aos seus apóstolos “isso representa meu corpo e meu sangue”, mas diz “Tomai todos e comei, isto é o meu corpo”, “Tomai todos e bebei, este é o cálice do meu sangue”. E acrescenta: “Fazei isto em memória de mim”. Ao mesmo tempo que entrega seu corpo e seu sangue aos apóstolos Ele lhes confia a missão de realizar este mesmo gesto ao longo do tempo em seu nome. É justamente isto que estamos fazendo hoje e em cada Eucaristia que celebramos.

Diante de tão grande mistério de fé e de amor temos de reconhecer que ainda nos falta a compreensão, o amor e uma maior abertura para que a ação de Cristo através deste sacramento opere em nós. Sendo assim, precisamos, literalmente, “aprender” a celebrar a Eucaristia. Isso não se refere simplesmente ao ritual da celebração, que mais ou menos somos habituados, mas diz respeito ao significado profundo deste dom de amor que o Senhor nos deixou e de sua ação em nosso interior e em toda a Igreja. Quando o Senhor nos pede “Fazei isto em minha memória”, Ele não quer somente que repitamos este gesto, mas que vivamos o seu sentido profundo.

Na verdade, isto que acontece com o pão e o vinho, que se tornam para nós Corpo e Sangue de Cristo, pela ação do Espírito Santo, é o que deve acontecer conosco. Em seu plano de amor, o Senhor deseja que nós nos tornemos seu Corpo. Isso é o que já teve início com nosso batismo: somos o corpo de Cristo. Mas ainda precisamos amadurecer neste processo e por isso precisamos tomar parte na celebração da Eucaristia e nos demais sacramentos, para que o que teve início em nosso batismo possa progredir e possamos crescer como Corpo de Cristo, como Igreja.

Como membros de Cristo, nós somos “felizes”, que são convidados a participar da ceia do Senhor. Reconhecemos que não somos dignos de que Ele entre em nossa morada, mas precisamos reconhecer também que nos falta amor diante deste mistério; nos falta um desejo mais profundo de conhecer aquilo que celebramos; reconhecer que nossa fé, muitas vezes, é uma fé de costume, de comodismo, e que precisamos, portanto, ser reanimados em nosso ardor. Por isso hoje, celebrando a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, somos convidados a refletir um pouco sobre o modo como celebramos a Eucaristia. Quais as disposições interiores que temos quando nos decidimos a vir para a celebração? Como me comporto durante a missa? Qual o lugar que o domingo ocupa na minha semana? Como eu aprofundo o meu conhecimento sobre o significado dos gestos e palavras da celebração?

Para que a Eucaristia produza em nós os frutos de comunhão com Cristo, com a Igreja e com toda a humanidade, não basta, evidentemente, saber coisas sobre a Eucaristia, sobre a missa, mas somos convidados a mergulhar mais profundamente no mistério da Páscoa, assumindo em nós o caminho da conversão. Sem isso, a Eucaristia não passará de um “hábito de bom católico” e que não repercute em meu modo de viver como cristão. Pela Eucaristia somos convidados a viver “por Cristo, com Cristo e em Cristo”, permitindo que a vida de Cristo que recebo neste Sacramento se torne a minha vida.

Que a participação neste mistério de nossa fé neste dia solene nos faça progredir em nosso caminho de conversão para que os frutos da Eucaristia que celebramos despontem em nossa vida. Amém.

Categories: Homilias