HOMILIA DO VI DOMINGO DA PÁSCOA – B (Jo 15,9-17)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

O Evangelho de hoje é a continuação do discurso de Jesus sobre a Videira e os ramos, que meditamos no último domingo. Aqui também o verbo “permanecer” predomina e aparece três vezes, agora conjugado com a palavra “amor”. É o convite de Jesus para nós hoje: “permanecei no meu Amor”.

Assim como Jesus permanece no Amor ao Pai e o Pai o ama, Ele deseja que nós vivamos essa mesma dimensão de unidade, de amizade: “eu vos chamo amigos”. Jesus nos chama de amigos, de íntimos, porque nos deu a conhecer tudo o que ouviu de seu Pai. Mas o que Ele nos dá a conhecer do Pai? Não poderia ser outra coisa senão o Amor, pois Deus é Amor. É o que João declara na segunda leitura: “a amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chega a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,7-8).

Vejamos que conhecer a Deus significa amar! Ser amigo de Deus significa amar! O contrário também é uma realidade: não amar significa não conhecer Deus, não ser seu amigo. Jesus nos chama amigos, porque derrama seu amor em nossos corações. A amizade com Ele não é iniciativa nossa: “não fomos nós que amamos a Deus, foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho” (1Jo 4,10), continua João. E o próprio Jesus nos diz no Evangelho: “Não fostes vós que me escolhestes, foi eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto”. E esse fruto que o Senhor espera de nós só pode ser Amor. Esse é o mandamento que Ele nos dá: “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei” (Jo 15,12).

Se estamos ligados ao tronco da videira, que é Jesus – e sua seiva é o amor – os ramos, que somos nós, só podem produzir um tipo de fruto: frutos de amor. Mas se não estamos produzindo esses frutos de amor, o que está acontecendo? Certamente não estamos unidos suficientemente ao tronco, que é o Senhor. Talvez estejamos agarrados a qualquer outro tipo de tronco: dinheiro, trabalho, preocupação exagerada com a saúde, com o conforto, com a segurança etc., produzindo frutos sem sabor, sem vida, incapazes de alimentar alguém; pior ainda: podemos estar unidos a troncos secos, estéreis, e por isso não produzimos fruto algum.

Quando Jesus pede de nós frutos de amor não está cobrando algo impossível ou impondo um peso sobre nossos ombros com seu mandamento. Ele simplesmente nos anuncia o que acontece quando permanecemos em seu amor. O Senhor sabe do que somos capazes e do que não somos capazes de produzir. Por nós mesmos, só podemos produzir frutos de pecado, de egoísmo, de tristeza e de morte. É por isso que Ele tomou a iniciativa de nos amar primeiro: para nos fazer capazes de amar com o seu amor. Se permanecermos em seu amor, seremos capazes de amar como Ele ama, ou seja, gratuitamente, livremente.

Através de sua Palavra que ouvimos e da comunhão com seu Corpo e Sangue na Eucaristia nós somos alimentados, nutridos de Amor. Um amor que, necessariamente, precisa ser partilhado, assim como a Eucaristia é partilhada e distribuída. É nossa missão, como discípulos de Cristo, como os ramos que produzem frutos, distribuir o seu amor, transformando o mundo à nossa volta.

Muitas vezes nos lamentamos diante de tanto mal e tanto ódio no mundo. Atribuímos isso aos que fazem a guerra, aos terroristas, aos criminosos ou à falta de ação eficiente dos governantes. Mas não é só isso… a responsabilidade por esse cenário de fracasso e falta de amor é nossa. Nós, cristãos, somos os portadores do Amor e da Paz de Cristo. Se o mundo está faminto de Amor, de Justiça e de Paz, cabe a nós distribuir esses frutos da ressurreição. “Amai-vos” nos pede Jesus; sejam canais do meu amor, ministros da reconciliação e da paz.

O mundo carece de amor porque, não poucas vezes, não agimos como discípulos do Amor, como amigos de Deus. Nos contentamos em viver uma “fé de sala de visitas”, de aparências, presos ao nosso individualismo egoísta, às nossas vaidades e nosso orgulho, sem deixar que a Palavra de Deus nos transforme ao ponto de nos tornarmos canais do seu Amor.

Peçamos ao Senhor a graça de nos reconhecermos como seus amigos, permanecendo em seu amor, mas também a coragem para agirmos conforme isso que acreditamos e celebramos (cf. Or. Coleta 6º Dom. da Páscoa).

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