HOMILIA DO VI DOMINGO DA PÁSCOA – A (Jo 14, 15-21)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Continuando ao seu discurso de despedida, Jesus consola seus discípulos e os anima com a promessa do Espírito Santo, o Paráclito.

No último domingo Jesus anunciava que voltaria para o Pai, de onde tinha saído e que lá prepararia uma morada para os seus discípulos. Para encontrar essa morada Jesus lhes indica a direção: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Ou seja, Ele é o Caminho que conduz à Vida, à Fonte da Vida que é o Pai; Ele é o Caminho Verdadeiro, sem atalhos, sem becos-sem-saída; Ele é o Caminho reto e seguro que conduz à morada do Pai, para onde Ele se dirige.

No próximo domingo nós celebraremos a Solenidade da Ascensão do Senhor ao céu. O Ressuscitado, que permaneceu 40 dias com os discípulos, agora vai para a casa do Pai. Mas Ele garante: “Não vos deixarei órfãos”; “eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade”. O Senhor vai para junto do Pai para poder lhes enviar o seu Espírito.

Mas os discípulos amam seu Mestre e querem Ele e não um substituto. De fato, o Espírito Santo não é simplesmente um substituto de Jesus. Por isso Jesus acrescenta, explicando: “não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Pouco tempo ainda, e o mundo não mais me verá – depois da Ascensão Jesus não será mais visto – mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis”.

Mas como Ele será visto? Jesus Ressuscitado tem o poder de ir para o Pai e continuar conosco. Como? A presença de Jesus entre os discípulos e entre nós hoje é diferente daquela antes de sua morte e ressurreição. Não menos real… diferente. Diríamos até que essa nova maneira de estar presente entre nós é ainda mais plena e profunda, pois agora não há nenhum limite físico de espaço ou de tempo para Ele. É o Espírito da Verdade que Ele promete e que concede em Pentecostes que possibilita este encontro em sua nova forma. É claro que os discípulos não compreendem esse discurso no momento da última ceia, nem mesmo depois. Somente em Pentecostes, quando recebem o dom do Espírito, é que eles compreendem as palavras de Jesus e experimentam a nova forma de sua presença entre eles.

Como Jesus diz, o mundo não pode vê-lo, conhecê-lo ou experimentá-lo porque não conhece o Espírito Santo. “Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e estará dentro de vós”. Pelo Batismo nos tornamos moradas do Espírito Santo e, por isso, capazes de conhecer ou reconhecer a presença de Jesus Ressuscitado no mundo. Mas onde está esta presença? Podemos encontrá-lo nos Sacramentos da Igreja e reconhecê-lo pela fé. Nós o ouvimos falar quando as Escrituras são lidas na Igreja ou quando meditamos a Palavra de Deus em nossa lectio divina. Encontramos Ele ainda em nossos irmãos, nos necessitados, nos doentes, nos hóspedes. De fato, Ele está no meio de nós. E por isso a presença do Espírito Santo em nosso coração é fundamental, pois é Ele que revela Jesus em nosso meio e nos dá a fé em sua presença.

Contudo, não é suficiente saber que somos habitados pelo Espírito Santo e que Jesus está no meio de nós. É preciso crer e experimentar que isso modifica nosso modo de viver, de pensar e de agir. Não dá para continuar vivendo como o mundo vive sabendo que somos de Deus. Como nos exorta S. Paulo: “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17). É justamente isso que as leituras da missa de hoje nos mostram: o Espírito Santo transforma o modo como nos relacionamos com o mundo e as pessoas.

Mas se nada disso acontece em nós, onde está o problema? Talvez isso que Jesus diz no Evangelho não seja para mim. Talvez eu não precise disso. Será que não é o bastante isso que eu faço de bom? Não é um pouco exagerado isso que o Evangelho nos pede? Essa é a mentalidade do mundo…

A chave para participarmos da vida nova que Jesus nos oferece está na abertura, no desejo de uma vida mais plena de significado. Não nos contentemos com isso que o mundo nos oferece, por mais lindo que seja. Desejemos a Beleza do dom que Jesus nos oferece, o Espírito Santo. É só isso que Ele nos pede: “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”.

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