Quinto Domingo da Quaresma (Jo 12, 20-33)

D. Agostinho B. FAGUNDES, OSB

Meus caros irmãos e irmãs,
neste V Domingo da Quaresma, a liturgia nos convida a abrir os nossos corações ao Senhor com fé e
confiança, e deixar-nos atrair por Ele – sua pessoa e sua mensagem, sua misericórdia e seu chamado à conversão.
Na primeira leitura de hoje ouvimos o profeta Jeremias anunciar uma Nova Aliança que Deus fará com
o seu povo: a lei do Senhor será gravada no interior dos nossos corações, no mais profundo de nosso ser, para que possamos conhecê-lO, ou seja, participarmos da vida de Deus. E à medida que nos abrimos à sua presença, Ele mesmo nos conduz para romper com o pecado – o egoísmo, o orgulho, o desamor, a falta de comprometimento com os nossos irmãos, nossas famílias, nossas comunidades. O Senhor mesmo realizará esta obra e reconheceremos que o Deus de Israel é o Deus Vivo, que age em nosso favor, que nos perdoa e nos convida a seguir adiante. No dia de nosso batismo recebemos o Espírito Santo, que veio habitar em nós. É Ele que realiza tudo isso em nós! Sejamos dóceis à sua voz e permitamos que Ele verdadeiramente transforme as nossas vidas, os nossos corações.
Nós, cristãos, à medida que o tempo quaresmal avança rapidamente, e já vamos nos acercando da
Semana Santa, ainda percebemos o quanto em nós necessita ser mudado. Daí o apelo do salmista, que se torna também o nosso, para que o Senhor nos dê um coração sem mancha, uma vida de plena liberdade, envolvida em sua grande misericórdia. Para que o pecado não encontre espaço em nosso interior, apesar de tantas fraquezas e de nossa radical insuficiência. Para que Sua face esteja voltada para nós, que o Espírito de Deus continue nos impulsionado, nos sustentando na oração e na prática do bem. Somente assim poderemos testemunhar que o Senhor está vivo e habita em nosso meio, é a fonte de nossas alegrias e esperanças. Sim, todos somos chamados à ousadia de viver na amizade de Deus.
Já a segunda leitura da liturgia de hoje e a perícope do Evangelho nos convidam a olhar para a pessoa de
Jesus Cristo. Ele é a fonte da Vida justamente porque passou pela morte e a venceu. O Cristo Jesus buscou em tudo cumprir a vontade do Pai, realizar a sua obra de salvação, glorificar o seu nome. E à medida que anuncia a chegada do Reino de Deus e de sua misericórdia em favor dos homens, – convidando todos a para participar do banquete da vida, sinalizando por meio de curas e milagres que Deus está conosco, perdoando os pecados dos homens – Jesus Cristo também sabe que acolher a sua pessoa exige um ato de fé, que suas palavras perturbam os acomodados, que sua mensagem não encontra espaço no coração de todos os homens e que sua vida está em risco. Mas anunciar o Reino e sua justiça é a sua vocação, sua missão, e ela será feita até o fim, por amor ao Pai e por amor a nós.
Jesus Cristo diz que a “sua hora chegou”, ou seja, que ele assumirá e cumprirá o desígnio de Deus até o
fim, com todas as suas consequências, inclusive a morte. E nessa morte está escondida a força de Deus. Pois a vida de Deus brota em nós justamente na medida em que não nos apegamos à nossas próprias vontades, planos, desejos, mas passamos a nos perguntar qual o seu desígnio para nós, e o que podemos fazer em favor de nossos irmãos. Queremos estar com Jesus, queremos estar onde Ele está, e para isso é preciso servi-lo, é preciso imitar seus passos, viver sua Palavra, abrir-se à vontade do Deus Vivo e semear a vida de Deus na vida do outro. Isso é a santidade, isso é a Vida no Espírito, isso é ter a lei do Senhor gravada em nossos corações.
E necessitamos segui-lo até o Calvário. Precisamos aprender com Jesus a nos estregar a Deus, a nos
abandonarmos n’Ele com total confiança. Quantas vezes nos desesperamos ou somos tomados pela tristeza diante das dificuldades e provações que todos enfrentamos. Mas aqueles que, tal como Cristo Jesus, já derramaram suas lágrimas na presença do Deus Vivo sabem a força que jorra da Cruz de Cristo. Para nós, cristãos, não há outro caminho senão o da intimidade com Deus e da obediência a Ele, pois é assim que nos tornamos seus filhos – à medida que descobrimos que a vontade de Deus é liberdade interior, é plenitude de Vida, é vida sem fim, é princípio de eternidade.

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