HOMILIA DA VIGÍLIA PASCAL
Dom Paulo DOMICIANO, OSB
A luz de Cristo é uma luz que brilha na escuridão (Jo 1,5). “Foi para chamar
nossa atenção para este mistério – explica Santo Agostinho em uma homilia
pascal – que o Senhor escolheu nascer durante uma noite e, do mesmo modo,
ressuscitar durante uma noite”, pois o Deus que disse: “Que brilhe a luz no
meio das trevas” (Gn 1,3), brilhou, Ele mesmo, em nossos corações para fazer
resplandecer o conhecimento de sua glória através da face de Cristo (cf 2Cor
4,6). Na noite de Natal a Igreja celebra o aparecimento desta luz no meio das
trevas: A Palavra “era a verdadeira luz, que, vindo ao mundo, ilumina todo
homem” (Jo 1,9). Mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas
obras eram más (cf Jo 3,19), e a luta foi trágica. Parecia que os homens das
trevas tinham razão… Pois aquele que dizia ter vindo do Pai, o Messias,
fracassou. A glória do Verbo encarnado parecia estar obscurecida na cruz e
no túmulo. Mas a noite de Páscoa revela a alegria do triunfo definitivo da luz
sobre as sombras da noite.
Esta presença luminosa e vitoriosa do Senhor entre seu povo é simbolizada
para nós pelo círio Pascal. Esta luz abençoada ilumina nossa escuridão. Nas
trevas da ignorância e da corrupção onde o pecado mergulhou a
humanidade, somente o Cristo ressuscitado nos permite encontrar nosso
caminho; a luz de Cristo, que nos precede como a coluna de fogo diante do
povo que marchava no deserto, é comunicada a todos aqueles que se
aproximam dele com fé, e cada um de nós se torna um portador de luz, capaz
de iluminar os outros. “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 9,5), disse-nos Jesus;
da mesma forma Ele nos declara: “Vós sois a Luz do mundo. Que vossa luz
brilhe diante dos homens” (Mt 5,14,16). Isto é o que nós experimentamos
durante a procissão do Lumen Christ ao entrarmos nesta Vigília.
Esta Luz, presente na criação desde o início, percorre toda a história da
humanidade, como nos revelam as Escrituras, que ouvimos nesta noite, do
Gênesis ao Evangelho da Ressurreição, numa revelação progressiva do plano
de Deus e sua execução. O Evangelho é o ápice deste processo de luz, assim
como é o ápice de nossa liturgia da Palavra nesta noite de Páscoa, coração
de todo o ano cristão.
O relato de Mateus menciona que um Anjo do Senhor é visto “como um
relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve”, e que ele retira a pedra
do túmulo: não para abri-lo e fazer sair o morto, mas para mostrar que ele
está vazio – “Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado.
Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito!” O plano de Deus triunfa
sobre as precauções e os obstáculos colocados pelos homens. A ação de Deus
é irreversível: a partir de então “nenhuma força será capaz de fechar este
túmulo. Nenhum poder, humano ou diabólico, poderá opor-se à proclamação
da Boa Nova” (J. Brière).
O Anjo anuncia às santas mulheres que Jesus de Nazaré, o Crucificado,
ressuscitou; as mulheres transmitem a Boa Nova aos Apóstolos, e estes
darão testemunho dela em Jerusalém e no mundo inteiro. A missão da
Igreja, até o fim dos tempos, será de anunciar a todos os povos a Mensagem
da Páscoa: o túmulo está vazio e o Crucificado está vivo para sempre.
Há dois mil anos ouvimos as mesmas palavras proferidas pelo Anjo e
confirmadas por Jesus: “Não tenhais medo! Ide…”. Somos enviados da
mesma maneira, como as santas mulheres, como os Apóstolos, para ir e
anunciar: Ele verdadeiramente RESSUSCITOU e sua palavra está mais viva
do que nunca. A morte foi vencida; a vida triunfou. Amém. Aleluia

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