HOMILIA DA EPIFANIA DO SENHOR (Mt 2, 1-12)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Celebrando ainda o Natal do Senhor, a Igreja nos propõe hoje a celebração da Epifania, a manifestação do Filho de Deus a todos os povos, como profetiza Isaías na primeira leitura e como cantamos no refrão do Salmo responsorial: “As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor”. As nações e os povos são representados no Evangelho por estes misteriosos personagens vindos do Oriente, que finalmente encontram aquele que todos desejavam ver.
O Mistério da Encarnação, que celebramos no Natal, realiza o admirável encontro entre Deus e o homem, entre a criatura e o Criador. No Natal o aspecto mais evidente é este movimento de Deus que vem até nós, que se abaixa, assumindo a nossa condição humana. Nesta segunda festa do Natal, que hoje celebramos, percebemos que não só Deus veio até nós, mas os homens mesmos, inspirados pela ação divina, se colocam em movimento e vão ao encontro daquele que veio para eles. Assim, a festa de hoje é a festa dos “buscadores”, daqueles que peregrinam à procura da face de Deus, como diz tão bem a oração de hoje: “concedei benigno (…) sermos conduzidos a contemplação da vossa face”.
Os Magos do Oriente são o símbolo dessa busca: de longe eles vão à procura do Salvador, atravessando múltiplos desafios, longos caminhos, áridos desertos, desencontros políticos, até, finalmente, encontrar o “menino com Maria, sua mãe”. Eles então “Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram.” (Mt 2, 11). Mas o que os move, o que faz com que eles abandonem tudo e partam em viagem?
Este Mistério que estamos celebrando hoje evidencia que a busca pelo encontro com Deus está misteriosamente inscrita no coração do ser humano, mesmo que ele não seja plenamente consciente disso, como testemunha o próprio Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti”. Movidos por este desejo, os magos se deixam conduzir por aquela estrela, que é sinal da generosa providência de Deus e que guia os passos daqueles que desejam o bem. Como eles, nós também somos convidados a olhar para o alto, buscando identificar a luz de Deus, que sempre brilha sobre nós e nos leva para Cristo. Contudo, não basta contemplar a estrela: é preciso tomar a mesma decisão de colocar-se a caminho, abandonando as falsas convicções, se desinstalando das aparentes seguranças e confortos humanos, e permitindo que o Espírito Santo nos conduza a Cristo.
Esta estrela que buscamos e que nos guia é, sobretudo, o Evangelho. É a Palavra de Deus que ilumina os nossos passos no caminho que nos conduz ao encontro com o Salvador. É esta luz da Palavra que nos abre os olhos, a mente e o coração para acolher o menino nascido como o nosso Senhor e Salvador.
Como buscadores e peregrinos que desejam contemplar a face de Deus, vamos ter a coragem de recomeçar o nosso caminho de busca, nosso caminho de voltar para Deus, deixando-nos inspirar novamente pela ação do Espírito Santo que habita em nós e que nos despertar para estarmos atentos e sensíveis à manifestação de Deus em nossa vida. O Senhor continua a se manifestar a todos, hoje, só precisamos estar atentos à sua presença, às inspirações que Ele faz brotar em nosso coração.
Que Maria, Stella Matutina, “estrela da manhã”, nos aponte o caminho, que é seu Filho, e interceda por nós em nossa peregrinação nesta vida.