DOMINGO DE PENTECOSTES 2025

Jubileu de 60 anos de profissão monástica de D. Cristiano Collart, OSB

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Ao longo destes cinquenta dias em que celebramos a Páscoa de Cristo, a liturgia nos ajudou contemplar os inumeráveis frutos que brotam de sua Morte e Ressurreição. Dentre eles, ressoou para nós, repetidamente, um anúncio de renovação, de transformação, que se opera nos corações dos homens pelo Espírito Santo. Este anúncio de renovação, que ouvimos do profeta Ezequiel na Vigília pascal e na Vigília desta noite, se realiza em Pentecostes para todos nós. O Espírito derramado sobre nós transforma o nosso coração de pedra em coração de carne, tornando-o capaz de acolher a Palavra vida de Deus; nossos ossos ressequidos pelo pecado e pela morte, são vivificados pelas águas fecundas do Batismo, que fazem de nós homens e mulheres novos, habitados pelo Espírito e capazes de bendizer a Deus.

Visto que o Espírito Santo é o dom por excelência do Ressuscitado, que brota de sua Páscoa, compreendemos porque João, em seu Evangelho, coloca o evento de Pentecostes no mesmo dia Páscoa. Para João, o domingo da Páscoa é o dia da nova criação, quando Jesus se coloca no meio dos apóstolos e sopra sobre ele dizendo: “Recebei o Espírito Santo”. É exatamente nesta efusão do Espírito Santo que está o sentido e fim de toda a missão que o Filho recebeu do Pai, ou seja, fazer de nós novas criaturas, filhos e filhas de Deus, capazes de dizer, como o próprio Filho eterno: “Abbá, Pai”.

Mas como temos acesso a esta vida nova, a esta vida no Espírito? O Batismo é a porta da vida nova. Contudo, a solenidade de Pentecostes nos leva a experimentar novamente o dom gratuito do Espírito Santo, a vivenciar o nascimento da Igreja, o início de nossa vida nova em Cristo. Uma das obras de Nicolau Cabasilas, teólogo bizantino do século XIV, tem justamente o título “A Vida em Cristo”, e nela o autor não faz mais do que comentar os sacramentos da iniciação cristã: o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia; pois, para todo cristão, a vida em Cristo é a vida na Igreja, a vida – o dom do Espírito – que nos é dada por meio dos sacramentos. Em toda a liturgia, particularmente na celebração dos sacramentos, é determinante o papel do Espírito Santo, que é invocado na epiclese sobre o pão e o vinho, sobre a água, o óleo, o penitente… Mas também em cada hora de oração iniciamos invocando o auxílio e a força de Deus sobre nós, “Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir – nos lembra São Paulo – é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).

A liturgia da Igreja é, portanto, para nós a fonte do Espírito Santo, a fonte desta renovação que a Páscoa de Cristo nos oferece. Mas, infelizmente, estamos muitas vezes distraídos e perdidos em nossas buscas pessoais e nos esquecemos de pedir o que realmente importa. Esquecemos de bater com insistência nesta porta da casa do Pai, onde há alimento em abundância, calor e festa. Por isso Jesus nos exorta a pedir sem cessar… “pois até agora nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16,24). Como assim, “nada pedistes”? Muitas vezes esta é a única coisa que fazemos em nossas orações… Podemos pedir coisas, mas Jesus está falando de pedir o que realmente importa: o Espírito Santo. Deus não quer nos dar coisas ou mudar situações pontuais em nossa vida. Ele quer fazer tudo novo em nós, nos renovar e nos transformar por inteiro. E os sacramentos e a vida da Igreja, que hoje celebramos, são a porta de acesso a esta fonte de vida nova.

É realmente muito significativo que nesta celebração Dom Cristiano também fará a renovação de sua profissão monástica. A profissão religiosa é também um canal da graça do Espírito, pois faz de nós novas criaturas, consagradas a Deus. Celebrar este jubileu de 60 anos de consagração dentro do grande jubileu do Nascimento de Nosso Senhor é já uma graça imensa, mas celebrá-lo no dia de Pentecostes, no dia da renovação de toda a criação e de toda a Igreja, é uma graça particular. Na verdade, não é somente o senhor que renovará a sua profissão monástica: pedimos para que o próprio Espírito Santo renove em seu íntimo aquele primeiro dom, o primeiro amor, que o fez tudo deixar para seguir o Cristo mais de perto; pedimos para que Ele renove aquele desejo que o levou a bater à porta do mosteiro para buscar somente a Deus. Que o Espírito Santo renove sua vida, suas forças, seu desejo de servir a Deus e buscá-lo com todas as suas forças.

Não tenhamos medo, irmãos e irmãs, de também nós renovarmos a nossa consagração batismal, nossos votos monásticos ou nosso matrimônio.   Peçamos o Espírito Santo e abramos no nosso coração à sua ação em nós: Ele renova todas as coisas! Que possamos permitir que Ele renove nossa mente, nosso coração, nosso agir, nosso falar e, deste modo, seremos as testemunhas de Jesus ressuscitado, anunciando, juntamente com os apóstolos: “Vimos o Senhor”.

Que a Virgem Maria, a Mãe do Cenáculo, interceda por nós, para que sejamos abertos, dóceis e disponíveis ao Espírito como ela foi; com ela e com os apóstolos peçamos, com confiança: Vinde Espírito Santo!

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