4º Domingo do Tempo Comum – Mc 1, 21-28

Dom Afonso Vieira, OSB

O Evangelho nos mostra como Jesus, o Filho de Deus, com a autoridade que lhe vem do Pai, renova e transforma em homens livres todos aqueles que vivem, de alguma forma, prisioneiros do egoísmo, do pecado e da morte.

É um ensinamento novo, proclamado com autoridade! Essa autoridade de Jesus, é afirmada incessantemente ao longo do seu ministério e da sua vida pública. É uma autoridade que nos faz crescer, e que se manifestará mais tarde de muitas maneiras. Uma autoridade que se manifestará de muitas maneiras mais tarde, como quando Jesus dirá a um “Segue-me”, e a outro “Levanta-te” ou, eu o farei, “sê curado”! Jesus tem uma autoridade que eleva as pessoas, e lhes da dignidade e vontade de viver, Jesus mostra um caminho de Vida. No Evangelho de hoje, a autoridade com que Jesus vai dizer ao Maligno, com firmeza ‘Cala-te’! Cala-te e vai embora! Essa é uma autoridade que nos liberta de um mal que nos deixa fracos, é a libertação daquilo que nos prende e não nos permite seguir adiante. É importante notar que o Maligno permanece sempre, de certa forma, como um corpo estranho no homem, que se torna seu escravo, como que um fantoche. O espírito maligno grita qualquer coisa contra Jesus, mas não fala realmente, e muito menos se comunica. O que ele diz, o que eles dizem a Jesus, é muito mais uma revelação, como um reconhecimento de quem é Jesus, mas ele usa esse reconhecimento como uma recusa do que Jesus representa. É uma recusa quando ele usa as palavras: “Que queres de nós”? O maligno se recusa a ter uma relação com jesus; ‘Vieste perder-nos’? Mas, mesmo assim, ele sabe quem é Jesus: “Eu sei quem Tu és”! Mas isso não é um ato de fé, saber não é acreditar! Acreditar em alguém é confiar nele e dar-lhe a nossa fé… é esperar n’Ele!

Quando nós fazemos nossa a profissão de fé, rezando o Credo, nós usamos o verbo crer, em latim credo, e não o verbo saber, em latim scio, pois existe uma diferença grande entre crer e saber. O conhecimento é muito útil, mas, ao contrário do ato de fé, pode nos deixar à beira da estrada na nossa vida, como alguns dos ouvintes de Jesus que assistem à cena descrita no Evangelho de hoje. Perplexos, sem estarem ainda em condições de escutar, de passar do ‘quê’ ao ‘quem’, do indiferente, à crença que torna a vida possível. Precisamos ter o ato de fé que acolhe a Palavra do Verbo da Vida. Mas cada um de nós tem seu tempo, o Senhor toca no nosso coração quando estamos abertos a esse toque. Seguir Jesus por causa de sua fama não é aderir a Ele. É preciso ir mais além, porque ser discípulo é comprometer-se a deixar para trás o rumor, o barulho. Temos de nos concentrar em Jesus, que fala pessoalmente e não para de usar mediações para nos tocar.

A primeira leitura nos leva a entender que as pessoas no deserto têm medo deste Deus impressionante que vive eternamente e que virá os conduzir através dos profetas, em cujas bocas colocará as suas palavras. Esta mediação é a mesma que depois farão os discípulos de Jesus, os apóstolos de Jesus, como Paulo, cujo texto lido hoje na segunda leitura nos provoca e interpele. Os conselhos que dá sobre o casamento podem surpreender, mas devemos situar este escrito no contexto da época em que se pensava que o fim dos tempos, se aproximava. O conselho de Paulo é escolher o bem, apegando-se ao Senhor sem deixar espaços vazios em nossa alma. É uma proposta para pacificar o nosso coração, para melhor vivermos o nosso ato de fé, para sermos mais verdadeiramente discípulos que escolhem a vida com determinação e testemunham o grande amor de um Deus que só sabe dar-se precisando de nós, num intercambio, do pouco que podemos compartilhar com Ele. É um apelo a ser esse discípulo que escuta, e que se coloca em movimento por uma palavra firme de autoridade, para ser, ele também, o mediador dessa Palavra de vida e de amor semeada no nosso coração, no coração do nosso irmão e que nos chama a dar testemunho. Jesus nos fala pessoalmente e nos convida a partilhar um pouco de fé, um pouco de esperança e um pouco de caridade neste mundo e neste tempo em que vivemos. Nos convida a sermos testemunhas do seu amor. Testemunhas desta Vida para a qual ele nos quer atrair a todos, com humildade e respeito pela nossa fragilidade, mas também com autoridade. Uma autoridade que nos faz crescer. Deus nos pede hoje no Salmo, antes do Evangelho: “não fechais os vossos corações … como seus pais no deserto” (Sl 94/95) e a esse pedido do Senhor façamos como nos diz o Salmo 41/42 (v 12): “Poe a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; Ele é o meu Salvador e o meu Deus.”

Categories: Homilias