IV DOMINGO DO ADVENTO – C (Lc 1,39-45)
Dom Paulo DOMICIANO, OSB
Podemos dizer que, mesmo em toda a sua beleza, o Advento é um tempo estranho… Começamos pelo final e terminamos no início: no primeiro domingo do Advento, a liturgia nos falava sobre o fim do mundo e depois, ao nos aproximarmos do Natal, neste quarto e último domingo, ela nos dá a oportunidade de contemplar os últimos momentos antes da Natividade; hoje a Visitação. De fato, se pensarmos bem, isso é bastante lógico. Qual é o sentido de comemorar o nascimento de Cristo, de celebrar o Natal, se, no final, isso não tem consequências para nossa vida presente e sobre o nosso futuro? O “clima natalino”, como ouve-se dizer na mídia, pode ser um momento romântico, uma espécie de trégua em que fazemos um esforço de bondade, que muitas vezes nos induz ao fingimento, que nos obriga a parecer felizes, mas, na verdade, que diferença tudo isso faz? Essa pergunta pode ser feita, e não apenas quando olhamos para o mundo e suas guerras, as mudanças climáticas, a decadência política e econômica, mas também quando olhamos para nossas famílias, nossas comunidades, para nosso próprio coração. Parece que nada muda ou até mesmo piora a cada dia…
Na verdade, o Advento nos ajuda a enxergar nossa situação com os olhos de Deus; um Deus que abraça o tempo e a história humana, o tempo e a história de cada ser humano, de cada comunidade, de cada povo. O Advento nos lembra que nós estamos neste tempo tão particular da história da salvação, situado entre a vinda de Deus na carne no Natal em Belém e o seu retorno glorioso na consumação dos tempos. Um tempo em que tudo já nos foi dado e, ao mesmo tempo, tudo está por ser feito. Tudo nos foi dado em Jesus Cristo, que veio habitar entre nós, tomou a carne de nossa carne, compartilhou nossa condição humana até o ponto da morte e venceu a morte. Mas, por outro lado, tudo está por ser feito ainda. Este tempo nos é dado para apressar o retorno de Cristo, como nós rezamos: “Venha a nós o vosso Reino”. E esta vinda depende também da abertura de nosso coração, de nosso desejo pelo Reino de Deus; depende de nossa conversão e de nossa vigilância.
Nessa perspectiva, então, sim, a celebração do Natal faz sentido, porque do Natal à Páscoa tudo, absolutamente tudo, nos foi dado. E este tempo que estamos vivendo nos foi dado para fazer com que o presente que nos foi dado dê frutos até que o mundo seja transformado… E Jesus finalmente volte em glória. Maria e Isabel entenderam isso perfeitamente! Nesse sentido, tanto a ânsia de Maria em visitar sua prima quanto a felicidade de Isabel ao recebê-la dizem algo sobre a certeza delas de que o tempo de espera acabou, que hoje, o definitivo de Deus, tão esperado pelo povo da Aliança, finalmente se encontrou com o tempo dos homens.
Portanto, podemos e devemos nos preparar para celebrar o Natal com a alegria de Isabel e a disponível caridade de Maria. A alegria daquela mulher que reconheceu no Filho que Maria carregava em seu ventre o Deus esperado há tanto tempo e que agora estava mais próximo do que qualquer profeta poderia imaginar. A disponibilidade e a caridade de uma mulher que entendeu que tinha chegado a hora em que cada ato de bondade poderia assumir, enfim, o seu peso da eternidade.
Disponibilidade e alegria, são as duas marcas características deste Evangelho do encontro entre Maria e Isabel. Nossa agitação, típica do final do ano, precisa se converter nessa “pressa” de Maria em servir; essa pressa de Maria só tem um motivo: a força de Cristo que habita seu ventre. A alegria verdadeira de Natal – não aquela das fotos de instagran – que fez Isabel exultar e João saltar em seu ventre, é a alegria que tem por fundamento a chegada de Cristo em nossa casa. Tanto Maria quanto Isabel descobriram o sentido do Natal, o sentido da caridade e da alegria: este Menino tão desejado pelos séculos, na plenitude dos tempos, se uniu à fragilidade e à precariedade da história humana e fez bem-aventurado todo aquele que acreditou na promessa do Senhor.