HOMILIA DO 3º DOMINGO DO ADVENTO (Mt 11,2-11)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Chegamos ao Terceiro Domingo do Advento, que é chamado de Domingo GAUDETE, ou seja, da Alegria. Isso porque a antífona de entrada, que acabamos de cantar, se inicia justamente com esta palavra: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos!” Mas qual o motivo deste convite à alegria: “O Senhor está próximo”. Assim também nos anuncia o profeta Isaías, que diz: “Alegre-se a terra que era deserta… Germine e exulte de alegria e louvores”. “Vede, é vosso Deus… é ele que vem para vos salvar”.
A liturgia nos convida a contemplarmos no horizonte a chegada do Senhor. Hoje também usamos os paramentos rosa, que é uma cor de transição do escuro para o claro, da noite para o dia. O motivo de nossa alegria e de nossa esperança é a confiança na chegada do Senhor.
Já podemos nos alegrar com a chegada do Senhor, reanimar nossas forças e nossa esperança, como ainda nos exorta Isaías: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”.
Mas em contraste com esta alegre esperança temos o quadro sombrio apresentado pelo Evangelho com João Batista na prisão. Este cenário nos propõe muitas perguntas importantes, que nos tocam e desafiam. João Batista, que anunciou a chegada do Messias, que o contemplou e adorou em Jesus Cristo às margens do Jordão, que encaminhou seus discípulos para seguir aquele que ele identificou como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, está agora na prisão e se questiona: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3). Como qualquer um de nós, João Batista tem seu momento de “crise de fé”. Na prisão, encarcerado e próximo da morte, o profeta se questiona onde está a libertação, a vitória, a vingança sobre os inimigos, que ele esperava e acreditava que o Messias traria? Por isso ele envia alguns discípulos para perguntar claramente a Jesus:”És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”
A resposta de Jesus é simples: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,4-5). A fé em Jesus não está em teorias, em discursos ou expectativas, mas em atos concretos. O anúncio profetizado por Isaías se cumpre através das obras de Jesus: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos” (Is 35,5-6a).
Vejamos como é bonito e edificante a humildade de João Batista em reconhecer, mesmo ao final de sua jornada, que não tem as respostas para todas as questões; em reconhecer que também tem dúvidas e que, principalmente, ainda precisa converter as suas expectativas em relação ao Messias esperado.
Hoje, já tendo percorrido mais da metade de nossa caminhada de Advento, somos convidados a refletir, junto com João Batista e seus discípulos, sobre nossa maneira de esperar e desejar. Somos convidados a rever mais uma vez qual é a imagem de Messias que esperamos: um Messias que resolve todos os nossos problemas e que atende todas as nossas necessidades e caprichos, ou um Messias que nos convida a renunciar a nós mesmos, tomar nossa cruz e segui-lo? A questão que se impõe para nós hoje não é se devemos esperar por alguém, o Messias Salvador, mas se devemos esperar por algo diferente daquilo criamos em nossa imaginação. Peçamos ao Senhor a coragem de acolhê-lo como nosso Messias, com todas as consequências desta escolha, abrindo mão de nossas expectativas mesquinhas e humanas. Peçamos a coragem de Maria e de José, que aceitaram receber em suas vidas este Messias que nos conduz ao caminho da cruz para podermos receber a vida renovada da ressurreição.