HOMILIA DO XVII Domingo Comum – Lc 11, 1-13
Dom Afonso VIEIRA, OSB
Irmãos e irmãs, nos colocando na presença de Deus, acolhamos com alegria sua Palavra. Que traz vida, que em Cristo, nos revela um Pai misericordioso que sempre nos escuta e nos oferece o dom do seu Espírito. Esse o rosto amoroso de Deus, nosso Pai, sempre inclinado a nos acolher e socorrer.
Na primeira leitura, nós vimos a súplica insistente de Abraão que se mostra capaz de influenciar os desígnios de Deus. A história da intercessão de Abraão em favor das cidades depravadas de Sodoma e Gomorra (Gn 18,20-32), nos mostra que a intercessão de homens que conhecem o amor de Deus é capaz de reacender a sua misericórdia. O “juiz de toda a terra” revela-se mais como amigo disposto a amar, acolher e perdoar do que como juiz que condena, porque, como nos diz o Apóstolo, a vida dos justos é esperança para um mundo melhor.
No Evangelho de hoje, percebemos a atitude orante de Jesus que anima os discípulos a pedir que os ensine a rezar. Jesus primeiro convida a orar com confiança por qualquer pedido e garante a todos que todas as orações sinceras serão atendidas. Ele então diz que um pai terreno dá apenas coisas boas aos seus filhos e não quer enganá-los. Como poderia Deus, o melhor dos pais, nos enviar algo ruim quando nós, seus filhos, pedimos sua ajuda? E então o Mestre lhes ensina a oração por excelência, a oração dos filhos e filhas de Deus, o Pai Nosso.
Deus é “Pai de todos”, e não apenas “meu Pai”. Nessa oração, pedimos o que é necessário para nosso cotidiano. Rezar como Jesus é estar em sintonia e intimidade com Deus, para louvar, agradecer e suplicar. É confiar plenamente em Deus e apresentar a ele nossas necessidades e os desafios de nossas vidas.
Jesus, ensinando a rezar como ele rezava, também nos chama a agir como ele agia. Por isso é importante pensarmos no peso das palavras dessa oração que sempre rezamos, por vezes de modo automático, sem nos comprometermos de verdade com o que, na oração, estamos dizendo a Deus. Nessa pequena e profunda oração, tal como Lucas nos apresenta, nós apresentamos ao Senhor cinco pedidos. Nela, nos dirigimos ao “Abbá”, o Pai querido de Jesus e nosso, que com Jesus, aprendemos que não é Pai severo, mas bondoso e cheio de amor, de quem não devemos ter medo. Com ele estamos em casa e, irmanados, pedimos que seu nome seja santificado na vivência de nossa fraternidade. Ele é Nosso Pai, então somos todos irmãos!
Pedimos que venha a nós o seu Reino, e com isso expressamos a vontade de nos desprendermos dos poderes deste mundo, nos dispondo a agir para que novas relações de solidariedade, serviço e misericórdia manifestem o Reinado do Deus de Jesus. O próprio Senhor disse ‘o meu reino não é desse mundo’ …, então, se o Reino do Senhor não é daqui e pedimos que venha seu Reino, estamos dispostos a abrirmos mãos dos reinos da terra!
Pedimos para todos o pão de cada dia, na consciência de que, pela ganância egoísta de quem deseja acumular, muitos dos que chamamos de irmãos acabam passando fome. Pedimos que o Pai nos perdoe e fundamentamos esse pedido no fato de nós também perdoarmos aos outros. Na oração, aliás, dizemos: “assim como nós perdoamos”. Mas qual é, afinal, o tamanho do nosso perdão, a medida que apresentamos a Deus para que ele nos perdoe? Essa é uma questão que devemos sempre ter presente em nossa mente!
Por fim, pedimos que o Pai não nos deixe cair em tentação. Ou seja, que nos livre de direcionar a nossa vida por um caminho que não seja o caminho de seu Filho. Se prestarmos atenção à oração do Pai Nosso, vemos que nós pedimos, mas também nos comprometemos, e assim, se não realizarmos a nossa parte, como o Senhor realizará d’Ele? Ora, a oração que Jesus nos ensina nos compromete com a mesma missão dele. É o tipo de oração que só tem sentido em sintonia com esse modo de agir, de confiança em Deus e partilha dos bens da vida entre todos.
Se fizermos nossa a vontade de Deus de que o seu nome seja conhecido e reconhecido e que o seu reino venha ao mundo, Ele mesmo fará suas as nossas preocupações. A Oração do Senhor é o resumo de todo o Evangelho. E é por isso que é o fundamento e o coração de toda a oração humana. Assim, como discípulos de Jesus, peçamos-lhe que nos ensine a rezar, mas de coração aberto, para que a nossa parte seja feita com gratuidade e disponibilidade, e o Senhor aja em nós e através de nós!