XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Lc 14,1.7-14)
D. Afonso VIEIRA, OSB
Irmãos e irmãs, no Evangelho de hoje Jesus, nosso Senhor, nos leva a pensar no Banquete do Reino, no final dos tempos, que é preparado pela forma em que vivemos esta vida no dia a dia. Devemos ter presente em nossa mente que participarão do Banquete do Reino quem souber portar-se no banquete desta vida!
Na vivencia desse banquete, no daqui, no desta vida, o Senhor hoje nos estimula a duas atitudes, dois modos de comportar-se evangélicos: a humildade e a gratuidade.
O Senhor nos fala da busca da humildade ao dizer: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar… Vai sentar-te no último… Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’”.
Mas o que é ser humilde? Humildade deriva da palavra húmus, que quer dizer pó, lama, barro… Assim, ser humilde é reconhecer-se abaixo, por baixo, dependente diante de Deus, é saber-se pobre, limitado. Pois quem é assim, sabe avaliar-se na justa medida porque sabe ver-se à luz do Senhor! Sabe que tem limites e que há pessoas que sabem mais, reconhece que não é o dono da verdade.
O humilde tem diante de si a sua própria verdade, inteira, plena. Sabe-se pequeno, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o humilde é livre e, porque livre, é manso. Santa Teresa de Jesus dizia que a humildade é a verdade.
O humilde vê-se na sua verdade porque vê-se como Deus o vê, vê-se com os olhos de Deus! Então, o humilde é aberto para o Senhor, d’Ele reconhece que é dependente, e a Ele se confia. E nesse sentido, podemos compreender as palavras do Eclesiástico que diz: “Filho, realiza teus trabalhos com mansidão; na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. O Senhor é glorificado nos humildes”. Assim é, porque somente o humilde, que reconhece que depende de Deus, pode ser aberto, e acolher como uma criança o Reino que Jesus veio trazer.
A segunda atitude que o Cristo hoje nos ensina é a gratuidade: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. A gratuidade é a virtude de quem dá sem esperar nada em troca, dá e sente-se feliz, sente-se realizado no próprio dar. Se prestarmos bem atenção, a gratuidade é filha da humildade. Só quem sabe de coração que em tudo depende de Deus e de Deus tudo recebeu gratuitamente (humilde), também sente-se impelido a imitar a atitude de Deus, dar gratuitamente! “De graça recebestes, de graça dai!” (Mt 10,8) ou, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem medida, sem reclamar salário nesta terra; sem fazer conta eu dou, pois convencida de que quem ama não sabe calcular!” Então, irmãos, quem faz crescer em si a humildade e cultiva a gratuidade, experimenta a Deus e Seu Reino, pois aprende a sentir o coração do próprio Deus, que tudo nos deu gratuitamente. Quem cultiva a humildade e a gratuidade, vai construindo o Reino e se entranhando das coisas de Deus entrará, um dia, no Reino dos céus!
Mas, se pensarmos bem, isso não é fácil, pois vivemos num mundo de autossuficiência e de resultados. O homem já não se sente mais dependente de Deus; deseja ele mesmo fazer a vida do seu modo. Assim, se fecha para Deus e, se fechando, já não mais reconhece no outro um irmão e, não experimentando a misericórdia gratuita de Deus, já não sabe dar gratuitamente: tudo tem que ter retorno, tudo tem que apresentar contrapartida, tudo tem que, cedo ou tarde, dar lucro, tudo é pensado na lógica do custo-benefício. Mas irmãos, olhando a vida assim, ela é triste … Mas, não será o nosso caso? Pensemos bem, porque se assim o for, jamais experimentaremos Deus de verdade, jamais O conheceremos de verdade. Nunca é demais recordar a advertência da Escritura: “Quem não ama não conhece a Deus!” (1Jo 4,8).
Meus caros, aproximemo-nos de “Jesus, mediador da nova Aliança”, e supliquemos a graça de um coração renovado, um coração convertido, um coração de pensamentos novos e novas atitudes! Recordemos das duas atitudes que farão nosso coração pulsar em sintonia com o Coração de Deus. Recordemos, como dizia São Bento, que pela humildade se sobe e pela soberba se desce! Mas para onde se sobe? Para o Banquete do Reino de Deus. Para onde se desce? Para a penúria do anti-Reino, do reino de Satanás! Peçamos, suplicando, ao Senhor, a graça da conversão, que somente com nossas forças somos incapazes e impotentes para encetar! Que o próprio Deus nos conceda essa força.
Que durante toda esta semana tenhamos a coragem de analisar e revisar nossas atitudes em casa, com os amigos e pessoas próximas, com os companheiros de trabalho e de estudo e nos examinemos diante do Cristo nosso Deus, no que diz respeito à humildade e à gratuidade. Amém!