HOMILIA DO XXI DOMINGO DO TC – C (Lc 13,22-30)
D. Paulo DOMICIANO, OSB
Jesus prossegue seu caminho para Jerusalém. Algum daqueles que o seguem ou que o encontra no caminho pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”
É uma questão que preocupava sobretudo os rabinos e mestres da Lei. Alguns acreditavam que somente os justos e observantes seriam salvos, outros acreditavam que todo o povo de Israel, e alguns ainda, acreditavam que toda a humanidade seria salva. É uma pergunta que ainda hoje assombra nossos corações: a salvação estará reservada para alguns justos, ou a misericórdia de Deus abrirá as portas do céu para todos?
Mas Jesus não toma parte em nenhuma dessas interpretações. Discutir sobre o número dos eleitos lhe parece desnecessário, pois a questão principal é sobre a urgência da luta para entrar no Reino dos Céus: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”.
Quando Jesus nos adverte que a porta é estreita Ele não pretende nos assustar ou impedir a nossa entrada, mas revela que somente aqueles que estão verdadeiramente determinados entrarão por esta porta. Devemos, portanto, estar preparados e vigilantes para chegar a tempo, antes que a porta se feche.
A parábola denuncia a presunção daqueles que acreditam possuir direitos adquiridos no Reino dos Céus por causa de suas práticas religiosas e que são melhores do que aqueles que fazem isso de outro modo. Tal pretensão também pode nos habitar, achando que o nosso acesso “à mesa no Reino de Deus” está garantido e não precisamos nos preocupar com mais nada, desde que frequentemos regularmente ou eventualmente a Igreja, façamos alguma doação daquilo que nos sobra ou algumas boas ações… enfim, que sejamos “pessoas de bem”.
A nossa participação na comunidade cristã, a escuta da Palavra de Deus e a celebração da Eucaristia são indispensáveis para nossa vida de discípulos de Cristo, mas devem se converter em meios para fazer o bem, a justiça e alcançar a caridade. Se o bem e a justiça não se concretizarem na vida, no comportamento, nas relações entre nós e os outros, então esses meios serão considerados por Jesus como um engano que vivenciamos. “Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’ Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!’”
Estas palavras de Jesus, portanto, nos convocam à conversão, à consciência dos nossos pecados e a não nos sentirmos garantidos ou melhores que os outros por nossas obras. “Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. Não conseguirão porque não aceitarão fazer este caminho de conversão e de despojamento de si mesmos. Para passar pela porta estreita o discípulo de Cristo deve, a exemplo de seu Senhor, despojar-se de si mesmo, pois não é possível atravessar esta porta carregando a pesada bagagem cheia de nós mesmos. A porta, que é o próprio Cristo (cf. Jo 10,7.9), é uma porta sempre aberta a todos, desde a sua vinda entre nós até hoje, e sempre uma “porta de misericórdia”, uma “porta de graça”, mas que exige de nós uma autêntica mudança de vida.
Que a celebração desta Palavra de vida e a participação no mistério do Corpo e do Sangue de Cristo transformem a nossa mentalidade e nos abra ao autêntico desejo de entrar no Reino de Deus para participar de sua mesa.