HOMILIA DO 1º DOMINGO DO ADVENTO (Mt 24,37-44) Catedral de Santo Ângelo
D. Paulo DOMICIANO, OSB
O primeiro domingo do Advento inaugura o novo Ano Litúrgico, onde, domingo após domingo, celebraremos o mistério do Cristo morto e ressuscitado, que se manifesta em cada evento da vida de Jesus, desde seu nascimento até a sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
O tempo do Advento, assim como todo o Ano Litúrgico, evocam para nós a realidade do caminho, a realidade de nossa condição de peregrinos nesta terra. O peregrino, diferente do andarilho (ou do giróvago) não anda vagando sem rumo, sem direção. O peregrino tem uma meta, tem um destino. Ao longo deste Ano Santo meditamos sobre esta realidade do caminho, do peregrinar, movidos pela esperança, que não decepciona, não engana, porque sabemos qual é o destino de nosso caminhar: é o próprio Cristo!
O tempo do Advento nos coloca no caminho da preparação para a “vinda do Senhor”, que não sabemos quando acontecerá, mas cremos e esperamos que Ele virá. Por isso, o convite à vigilância se destaca para nós desde o primeiro domingo, como exorta São Paulo: “já é hora de despertar” (Rm 13,11) e o próprio Senhor, no Evangelho: “Portanto, ficai atentos! porque não sabeis em que dia virá o Senhor” (Mt 24,42).
Mas a preparação do caminho também deve ser feita para podermos ir ao encontro do Senhor, como exorta o profeta Isaías: “Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos” (Is 2,3). É, portanto, um caminho de “mão dupla”, que nos conduz ao Senhor e, ao mesmo tempo, permite que Ele venha até nós!
Advento (Adventus), significa “chegada” e por isso, neste tempo nos preparamos para a chegado do Senhor. Nós fazemos memória de sua primeira vinda, através da Encarnação, e, ao mesmo tempo, nos preparamos e já celebramos a sua segunda vinda, que acontecerá no fim dos tempos. Ele veio e Ele virá!
No Prefácio do Advento I, que rezaremos na liturgia de hoje, anunciamos justamente este mistério das duas vindas de Cristo: “Revestido de nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abri-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez”. O Cristo já veio uma primeira vez, tomando a condição humana, e Ele virá de novo, no fim dos tempos, revestido de sua glória.
Mas entre essas duas vindas de Cristo, o que fazemos? Anunciando a segunda vinda de Cristo, o Prefácio ainda nos diz que Ele virá “para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje vigilantes esperamos”. Assim, o tempo presente, este “hoje” evocado pelo Prefácio, é vivido em dependência com a vinda do Senhor Ressuscitado, na expectativa de encontrá-lo e de entrar plenamente na comunhão com Deus, vigilantes na fé.
Esta espera se articula com uma terceira vinda do Senhor, que acontece hoje. O prefácio não menciona esta terceira vinda, justamente porque nós a celebramos neste momento, na liturgia. Pois, quando nos reunimos para celebrar o mistério de Cristo, Ele se faz presente no meio de nós nos sacramentos, no pão e no vinho consagrados, na Palavra de Deus proclamada, na assembleia reunida, que é o Corpo de Cristo.
Além dessas presenças do Senhor entre nós, não podemos esquecer que Ele chega em nosso hoje através de cada necessitado que se aproxima de nós, como lembra o Prefácio do Advento I-A: “Agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização do seu Reino”.
Existem, portanto, “três vindas” do Senhor: Ele veio, Ele virá e Ele vem hoje. Preparemos o caminho do Senhor, caminhemos por este caminho, como peregrinos de esperança, que conhecem o seu destino, Jesus Cristo e seu Reino. Permitamos que o Senhor chegue até nós por este caminho aberto em nosso coração, em nossas casas, em nosso mundo, tão carentes de paz, de reconciliação, de amor. Durante este tempo do Advento vamos identificar o que precisa ser removido deste caminho para facilitar nossa intimidade com Deus, para nos aproximar mais de sua Palavra, e assim, podermos celebrar o Santo Natal com mais profundidade e frutos de conversão.