30° Domingo do Tempo Comum

D. Agostinho Barcelos Fagundes, OSB

Caríssimo irmãos,

a liturgia de hoje nos convida a estreitar os laços de amor que nos unem ao Senhor Nosso Deus e aos nossos irmãos.

Como vimos, no Evangelho o Cristo Senhor é perguntado por um fariseu sobre qual é o mandamento mais importante. Essa questão tem seu lugar, já que a tradição judaica afirma que 613 são os mandamentos dados por Deus. Então os fariseus querem provar a sabedoria de Jesus, sua legitimidade como mestre, e querem saber como o Senhor se posicionará em relação à indagação.

Mas nós sabemos, por meio de outros relatos evangélicos, que Jesus não ensina à maneira dos mestres e fariseus, pois ele possuía autoridade. Jesus ensina com propriedade, pois é pleno do Espírito Santo e vive em profunda comunhão com o Pai, fonte de todo amor e todo bem.

Então o Cristo reafirma que precisamos dar ao Deus Vivo um lugar único em nossa vida, em nosso coração, e que sejamos conduzidos por este valor primeiro: Deus! Ele é nosso Pai, origem e fim de nossa vida. Viver em Deus, viver em comunhão com Ele, aderir a Ele no mais profundo de nosso ser, dizer “Sim” a Ele no mais íntimo de nós mesmos e desejar ardentemente sua presença e seu amor. Tudo isso é amá-lO de todo o coração tal como Jesus afirma hoje. Viver em Deus é a nossa vocação, aliás, é a mais importante vocação do homem, criado à imagem e semelhança do Senhor.

É por isso que podemos cantar como o salmista: “Eu vou amo, ó Senhor, sois minha força e minha salvação”.  Sabemos que Ele é o nosso sustento, nosso amparo, nosso auxílio, aquele que sempre se faz presente para abrir um caminho novo quando nos vemos em situações sem saída, que dá um sentido novo à nossa vida quando tudo parece se fechar sobre nós. Sua salvação é plena, sem medidas, generosa, gratuita… bem sabemos que não a merecemos.

Ora, mas toda esta vivência não estará completa se não houver um transbordamento, uma irradiação, dado que o Espírito Santo que habita em nosso coração a um só tempo nos ensina a chamar a Deus de Pai e também ao próximo de irmão. A partir de seu batismo, o cristão nasce para uma vida nova em Deus, na Igreja, na comunidade cristã, junto de seus semelhantes.

Crescer no amor a Deus e ao que está ao nosso lado é o que nos convida a liturgia deste domingo. Mas em que consiste este amor ao próximo a que somos chamados? É o próprio Cristo Jesus, nosso Mestre, que nos diz: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”. Jesus cumpre toda a Lei e toda a profecia em Sua cruz, em que Ele dá a sua vida em total fidelidade e amor ao Pai e a nós.

É por isso que a Primeira Carta de Pedro exorta a todos os cristãos: “Acima de tudo, cultivai, com todo o ardor, o amor mútuo, porque o amor cobre uma multidão de pecados”. Primeiramente Deus nos oferece seu amor e perdão na vida e na morte do Cristo Jesus. E depois, nós, vivendo no mesmo Espírito Santo, unidos ao Cristo Jesus, prolongamos sua salvação em nossos próprios corações e atitudes, no acolhimento de nosso irmão, respeitando-o, escutando-o, perdoando-o, encorajando-o, sustentando-o, solidarizando-nos em suas necessidades materiais, enfim, realizando todos aqueles gestos que são expressão de um amor verdadeiro, cuja fonte é o próprio Deus Vivo.

O estrangeiro, a viúva, o órfão, o pobre e todo aquele que se volta para o Senhor com as mãos vazias… em cada um deles se faz presente o Cristo Jesus.

            Um antigo monge – o Abade João Curto – ensinava: “‘Não é possível construir a casa de cima para baixo, mas é do fundamento para o alto que se edifica’. Perguntaram-lhe então: ‘Que significa isso?’ Respondeu: ‘O fundamento é o próximo que deves lucrar; pois aí é preciso começar. Com efeito, todos os preceitos de Cristo estão estabelecidos sobre o próximo.””

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