XXVIII DOMINGO DO TC – C (Lc 17,11-19)

Dom Paulo DOMICIANO, OSB

Nos tempos bíblicos, todas as doenças da pele eram chamadas de “lepra” e eram causadas por motivos espirituais. Segundo o livro do Levítico, um leproso curado deveria receber de um sacerdote a atestação de sua cura, devendo cumprir uma série de rituais de purificação para depois ser reintegrado à comunidade e ao culto. Por sua vez, o leproso não curado era obrigado a ficar fora da cidade, vivendo como um estrangeiro em seu próprio país.

A liturgia da Palavra de hoje nos apresenta dois personagens leprosos, que nos iluminam com seu testemunho de fé. Naamã, o sírio, e um samaritano anônimo. Esta fé de que nos falava a liturgia no último domingo; que é suficiente se for do tamanho de um pequeno grão de mostarda para tudo transformar.

Eles têm muitos pontos em comum: nenhum dos dois pertence ao povo de Israel, portanto, são estrangeiros. Naamã é um general inimigo que combateu Israel e o samaritano é considerado um herético, alguém a ser evitado. Ambos sofrem com a lepra, vivem um momento de prova, mas, ao mesmo tempo, fazem uma experiência de fé, indo em busca de ajuda, pedindo a sua cura a um profeta judeu – Naamã vai até Eliseu e o samaritano vai até Jesus. Sem dúvida eles foram audaciosos, pois não sabem como seriam recebidos. Eles arriscam cruzar uma fronteira bem delimitada entre os sadios e os doentes, os puros e os impuros. Além disso, eles cruzam a fronteira entre o possível e o impossível, em direção ao desconhecido. Naamã vai a uma região de inimigos, confiando na palavra de uma serva que lhe falou sobre o profeta; o samaritano, junto com seus nove companheiros de infortúnio, confia nas palavras de Jesus, que diz para irem se apresentar ao sacerdote no templo, mesmo sem terem sido curados. Esta confiança em uma palavra de esperança se transforma em um caminho para eles.

Assim se passa em nossa vida também. Em tantas situações de sofrimento ou de dificuldade não temos mais do que uma palavra em que nos agarrar e temos de confiar, seguindo esta palavra, trilhando um caminho de fé, passo-à-passo. Este caminho não tem nada de espetacular, como talvez esperasse Naamã, a quem o profeta manda se banhar no rio Jordão, ou os leprosos, que poderiam esperar uma cura instantânea diante de Jesus. Ao contrário, é um caminho ordinário, construído com as pedras do cotidiano de nossa vida. Um caminho, como na vida monástica, ritmado pela repetição, muitas vezes monótona das atividades de cada dia – orar, ler e estudar, trabalhar, conviver com os irmãos. Mas à medida que caminhamos, como diz São Bento, o nosso coração se abre e vai progressivamente se enchendo de doçura e alegria; vamos experimentando a graça da salvação em nossa vida, esta graça que o Cristo anuncia ao samaritano curado: “Vai, tua fé te salvou”.

Esta é uma questão da vida espiritual que afeta muitos de nós. Nem sempre uma cura ou uma graça particular que pedimos a Deus nos é concedida de imediato. Então podemos pensar que Deus não nos ouve, que não se importa conosco, ou então, que não temos fé o suficiente, que não somos dignos. Mas não é bem assim. Deus sempre se interessa por nossas aflições, porque é nosso Pai e nos ama. Do nosso lado, por mínima que seja nossa fé, como um grão de mostarda, existe em nós a capacidade de transformação. Mas, como as leituras de hoje nos mostram, muitas vezes temos de pedir com confiança e com confiança redobrada nos colocar a caminho, seguindo nossa vida, sem ficarmos parados, presos aos nossos problemas. É preciso seguir a vida, como dizemos. A cura de que precisamos está no caminho, no processo de se deixar transformar. Como nos mostram nossos dois personagens, mais importante que a cura alcançada é a fé que eles professam. Naamã é capaz de reconhecer: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!” Do mesmo modo no Evangelho, os dez leprosos são curados – e isso é maravilhoso! – mas apenas o samaritano, aquele que aceitou percorrer o caminho que o conduziu a Jesus recebe salvação, porque seu coração se abriu ao dom da gratidão, da ação e graças: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

Como o samaritano, para experimentar não só a cura, mas a salvação, é preciso ir até o fim, renovando um dia depois do outro a experiência da confiança vivida fielmente na celebração da misericórdia do Senhor por nós. O banho de Naamã no Jordão nos remete à graça do Batismo, que faz de nós homens novos, mas o grito dos leprosos no caminho – “Jesus, tem compaixão de nós!” – nos lembra também que precisamos constantemente celebrar a misericórdia de Cristo em nossa vida através o sacramento da reconciliação, que nos purifica de nossa lepra de pecadores. Além disso, o samaritano curado, voltando a Jesus para lhe dar graças, nos convida a sempre voltarmos ao Senhor para render-lhe graças, para celebrar a salvação que Ele nos oferece na Eucaristia.

Caminhemos, irmãos e irmãs, sem desanimar. É caminhando, com o coração penetrado de esperança que o Senhor opera em nossa vidas a salvação. Que a Virgem Maria, que também se pôs em caminho ao receber o anúncio do anjo, interceda por nós e caminhe conosco.

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