XXII DOMINGO DO TC – A (Mt 16, 21-27)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

O Evangelho de hoje é a continuação do episódio que ouvimos no último domingo. Este é o ponto culminante nos três Evangelhos sinóticos; é como a linha divisória no ministério de Jesus.

Até este ponto os gestos e palavras de Jesus transmitiram, particularmente aos doze discípulos, os sinais sobre a sua identidade e sua missão. Todos que viram e ouviram Jesus ou que ouviram falar dele têm uma opinião a seu respeito, como ouvimos no domingo passado: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. São opiniões vagas e imprecisas. Mas Jesus quer saber qual é a opinião dos discípulos, desses que o acompanham, que vivem com Ele, partilhando de sua intimidade. “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro se adiante e responde em nome de seus companheiros: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.

Ainda hoje é assim… O mundo todo tem opiniões variadas sobre Jesus, muitas vezes até discordantes. Mas e para nós, que somos seus discípulos, que levamos o seu nome – cristãos – que ouvimos os seus ensinamentos e procuramos praticá-los, para nós, quem é Jesus? Volta e meia o Evangelho nos confronta com esta questão, esta pergunta endereçada a cada um de nós de modo pessoal: E tu, quem dizes que eu sou?

Provavelmente a nossa resposta estará de acordo com a de Pedro: “Tu és o Cristo de Deus”. A resposta está correta, mas o que significa dizer que Jesus é o Messias? Na expectativa de Pedro e dos outros o messias viria libertar Israel de seus inimigos; seria um messias político/rei, poderoso e vingador, que resolveria todos os problemas de seu tempo. E é por isso que Jesus lhes proíbe de falar sobre isso, para, justamente, evitar essa confusão.

Nós também não somos diferentes… também idealizamos como deveria ser o “messias”: geralmente, queremos um messias que resolva tudo em nossa vida, que tenha todas as respostas para os nossos dilemas, que faça desaparecer os obstáculos que encontramos ao longo do caminho.

Para corrigir essas ideais falsas sobre o tipo de messias que os discípulos tinham em seu coração, Jesus lhes anuncia que tipo de messias Ele é e os introduz na segunda parte do Evangelho; é a segunda parte deste episódio, que contemplamos na liturgia de hoje.  Ele lhes anuncia algo desconcertante e totalmente contrário a tudo o que eles esperavam: um messias rejeitado, sofredor, que morre, e não um “super-herói”, um rei que triunfa sobre os inimigos do seu povo e os humilha.

“Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.

Jesus é um messias da cruz, mas que vence, não os inimigos que o perseguiram, mas o pecado e a morte, nossos maiores inimigos.

Finalmente Ele pergunta aos discípulos e a nós: vocês querem um messias da cruz? Querem seguir um messias com uma cruz? Há vitória sim, ressurreição, vida nova, mas somente passando pelo caminho da cruz.

“Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir (ser meu discípulo, ser cristão), renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me”.

O Evangelho nos indica que para ser discípulo de Jesus não basta dizer que Ele é Messias ou até mesmo ter fé nele. É preciso se dispor a segui-lo e percorrer o seu caminho, cada um com a sua cruz. Infelizmente o nosso cristianismo se transformou numa fé da cabeça, racional e superficial. Parece que é suficiente ter alguns conhecimentos teóricos sobre Jesus Cristo, sobre o Evangelho, e basta. Contudo, o Cristianismo não é um conceito, é uma relação de entrega recíproca. Jesus exige atitude concretas e decididas de seu discípulo: renunciar, tomar a cruz, seguir. Não há lugar para passividade aqui. Para Jesus não é suficiente que seus discípulos andem atrás dele como meros espectadores; Ele os chama a “segui-lo”, ou seja, a viver com Ele e como Ele. Ser cristão é justamente isso, ser outro Cristo.

Todo aquele que se dispõe a trilhar o caminho de Jesus, tomando cada dia a sua cruz, também participa com Ele do mistério da vida nova. Mas enquanto ficamos ocupados em preservar a nossa vida, marcada pela mediocridade e pelo pecado, permanecemos na margem, perdemos a vida. Só aquele que se arrisca a cruzar este caminho, que se arrisca a perder, a morrer, só este alcança a vitória da ressurreição, a vida nova, a liberdade.

É uma decisão que temos que assumir a cada dia: “tome sua cruz cada dia”. Cada dia tenho que decidir se quero ou não renunciar a mim mesmo, tomar a minha cruz e seguir Jesus Cristo; desperdiçar ou ganhar a vida que Deus me oferece. Perder a vida por causa de Jesus é a garantia de salvá-la.

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