D. Agostinho B. FAGUNDES, OSB

]Meus caros irmãos e irmãs,
a liturgia deste II Domingo da Páscoa nos convida ao aprofundamento de nossa fé em Cristo Jesus, para
que cada um de nós possa se colocar diante do Filho de Deus e, tal como Tomé, fazer sua profissão de fé em sua pessoa, exclamando: “Meu Senhor e Meu Deus”.
O Evangelho de hoje aborda temas basilares da fé cristã. As portas trancadas simbolizam o pavor dos
discípulos, o desânimo, a falta de esperança entre eles. Mesmo eles já tendo ouvido o anúncio de que Cristo Jesus está vivo, ainda não compreendem o significado desta mensagem e, por isso, o temor os domina. O Senhor então se apresenta no centro da comunidade e comunica-lhes a um só tempo a Paz – que é fruto da sua vitória sobre a morte – e seu Espírito. E assim eles estão prontos para anunciar a salvação que nos veio de Deus por meio de Seu Filho, que na cruz perdoou nossos pecados. “Dai graças ao Senhor porque Ele é bom, eterna é a sua misericórdia”. Oito dias depois o Cristo Ressuscitado se manifesta novamente aos discípulos e convida Tomé a dar um passo de fé, e o discípulo assim o faz. Este convite está hoje, na liturgia, diante de cada um de nós.
Muitos cristãos compreendem a vida cristã como estando marcada única e exclusivamente por sua relação com Deus. É muito comum ouvimos frases tais como “eu não vou à igreja mas eu rezo em casa”, ou ainda “eu não vou à missa mas todos os dias faço minhas orações”. Essas atitudes expressam que a fé cristã não foi bem compreendida, pois é no seio da comunidade que o Cristo Jesus se manifesta aos seus, é junto aos nossos irmãos que crescemos em nossa fé. Não há dúvidas quanto à importância de se manter uma relação pessoal e íntima com Deus em nosso dia a dia, em nossa casa. Mas é fundamental crescer na comunhão, fazer um caminho juntos, partilhar a vida e a fé com nossos irmãos, e juntos darmos graças – Eucaristia.
“Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual” é o que cantamos hoje ao iniciarmos
nossa celebração. Ora, quem nos alimenta na fé é a Igreja, é a comunidade cristã que nos oferece o pão da Palavra e o pão Eucarístico, nos instruindo para crescermos em nossa vida espiritual, em nosso serviço aos nossos irmãos, em nosso papel de anunciadores do Evangelho.
A primeira leitura que ouvimos no dia de hoje mostra exatamente a força espiritual da primeira
comunidade cristã. Vivendo em total abertura ao Espírito Santo, aqueles homens e mulheres, discípulos do Cristo Jesus, procuravam viver suas vidas cristãs em profunda comunhão uns com os outros, e dedicando-se plenamente ao serviço dos irmãos, pois foi exatamente isso que Jesus os ensinou. Enquanto vivermos olhando apenas para as nossas necessidades materiais e espirituais, não é possível viver com fecundidade a vida cristã. Mas à medida que passamos a estar mais atentos à necessidade do outro, numa atitude de disponibilidade e abertura para ele, não estou vivendo apenas a “minha”, mas a “nossa fé cristã.”
Ora, a reflexão que a segunda leitura da Liturgia da Palavra nos propõe hoje diz respeito exatamente a
essa questão. Quem crê na pessoa de Jesus nasceu para a vida divina. A partir do batismo, participamos da morte do Senhor, do seu sangue dado por nós na cruz – o verdadeiro “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, e recebemos o Espírito de Deus. Habitando no mais profundo do nosso coração, o Espírito nos dá a graça de vivermos uma vida nova, não a partir de nós mesmos e guiada por nossas vontades egoístas, mas a partir de Deus, e orientada pela Palavra de Deus, voltada para a vontade de Deus e para o Seu Reino, no amor aos irmãos que se revela por meio do serviço. Pois o nosso amor a Deus se expressa de modo concreto por meio da observância dos mandamentos, “amando a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos”. Dessa forma, a vida cristã está marcada pela vitória sobre o mundo. Pois participamos da mesma força do Cristo Jesus para agirmos em sintonia com Deus, na justiça, na verdade, na bondade, e não com o pecado, a morte, a divisão, a desintegração, o mal.
Cristo Jesus está vivo! Anunciemos esta verdade com o coração e com a vida, com a boca e com todo o
nosso ser.

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