HOMILIA DO QUARTO DOMINGO DO ADVENTO (Lc 1,26-38)

D. Afonso Vieira, OSB

Hoje, o Evangelho de São Lucas, nos apresenta personagens, tempo, lugar e um acontecimento. Nos conta, num tom popular e acessível, uma grande história. Nos fala, não de um conto criado pela fantasia, mas uma realidade tecida por Deus com a colaboração humana. O ponto mais alto é: ‘Eis que conceberás e darás a luz um Filho’ (Lc 1,31). Esta frase nos diz que o Natal está próximo. Maria nos abrirá as portas da salvação com a sua colaboração na obra de Deus.

A humilde menina de Nazaré ouve com surpresa o anúncio do Anjo. Ela rezava, como uma boa judia, para que Deus enviasse em breve o Messias, para salvar o mundo, mas não podia imaginar, na sua humilde compreensão, que Deus a tivesse escolhido para fazer parte de sua história de salvação. Maria vive momentos tensos e dramáticos no seu coração, porque ela tinha consigo a vontade de permanecer virgem, porém, Deus lhe oferece agora a maternidade. Na sua inocência, Maria não compreende (Lc 1,34), e pergunta como se dará isso. Para Deus nada é impossível. O Anjo diz-lhe que a sua virgindade e a sua maternidade não estão em contradição, porque, é pela força do Espírito Santo, que tudo acontecerá. Para ela, as coisas ainda não são claras, mas é o suficiente, porque o milagre será obra de Deus (Lc 1,38).

 Acontece-me! Venha sobre mim! Fiat! Sim.

Acolhimento total da vontade de Deus, de forma meio tímida, mas incondicional.

“Alegra-te, cheia de graça: o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Deus sempre a pensou e quis, no seu desígnio, que não podemos imaginar, como uma criatura cheia de graça, isto é, cheia do seu amor. Mas, para estar cheio, é preciso dar espaço, esvaziar-se, afastar-se. E isso foi o que Maria fez.  Ela soube escutar a Palavra de Deus e confiar totalmente na sua vontade, a acolhendo na sua vida sem reservas. A tal ponto que, nela, o Verbo se fez carne. Isto é possível por causa do seu “sim”. Ao anjo que lhe pede a disponibilidade para ser mãe de Jesus, Maria responde: “Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra” (v. 38). Ela não fica raciocinando, não coloca obstáculos no caminho do Senhor, mas entrega-se prontamente e deixa espaço à ação do Espírito Santo. Se coloca imediatamente à disposição de Deus todo o seu ser e a sua história pessoal, para que seja a Palavra e a vontade de Deus seja realizada. Assim, correspondendo perfeitamente ao projeto que Deus tem para ela, Maria torna-se a ‘toda bela’, a ‘toda santa’, mas sem a menor sombra de soberba. Ela é humilde. Nela se reflete a grandeza de Deus.

Nesse momento, (Gn 1,14) da história, ao mesmo tempo, a realidade mais divina e mais humana se encontra. O papa Paulo VI escreveu que “Em Maria vemos a resposta de Deus ao mistério do homem e a pergunta do homem sobre Deus e sobre a sua própria vida”. A anunciação a Maria inaugura a “plenitude dos tempos” (Gl 4,4), nela se cumpre as promessas de tudo aquilo que os profetas anunciaram. Maria é chamada a conceber aquele em quem habitará “corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2,9). “O Espírito Santo descerá sobre ti” (Lc 1,35)”

O Verbo, que encontrou morada no seio virginal de Maria, vem habitar de novo o coração de cada cristão no Natal. Cada um de nós, somos chamados a responder, como Maria, com um ‘sim’ pessoal e sincero, nos colocando plenamente à disposição de Deus”. O testemunho de Maria é um testemunho que questiona e que nos interpela… Que atitude tomamos diante de Deus? Ela teve uma atitude de entrega total a Deus, e nós, qual atitude temos?

Deus quer ter necessidade de uma mulher para trazer ao mundo o seu Filho bem-amado. Do mesmo modo que escolheu, desde sempre, homens para cumprir em seu nome missões particulares, Ele escolhe agora uma mulher para a missão suprema de trazer o corpo do seu Filho único. Este domingo celebra ao mesmo tempo a humildade de Deus e a humildade de Maria. Maria nos ajuda a dar o salto de fé, ela é o nosso modelo, mas ao mesmo tempo é nossa Mãe, e assim podemos ter confiança e encontrar junto dela todo o reconforto de que precisamos. Procuremos, com Maria, tomar uma decisão que comprometa a nossa fé, que encontre um ritmo mais regular para a oração, que nos ajude a sentir Deus. Deixemos que o Senhor aja em nossa vida. Vem Senhor Jesus!

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