DOMINGO DE PENTECOSTES 2024 (At 2,1-11)

D. Paulo DOMICIANO, OSB

Nos Atos dos Apóstolos lemos que após a sua ressurreição, durante quarenta dias, Jesus apareceu aos apóstolos e falou-lhes do Reino de Deus. Certo dia, enquanto comia com eles, ordenou-lhes: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: ‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias’” (At 1,4-5). Mais adiante, acrescentou: “recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8).

Tendo contemplado o Senhor subir aos céus, como celebramos no último domingo, os apóstolos, junto com Maria e outros discípulos, permaneceram em Jerusalém, como em um retiro, reunidos unânimes em oração (cf At 1,14; 2,1), aguardando a realização da promessa de Jesus. Em uma manhã como esta, aqueles homens e mulheres temerosos, trancados no Cenáculo – porque sabiam que estavam sendo perseguidos – experimentaram a poderosa presença do Espírito Santo, que transformou suas vidas para sempre. As suas vidas, transformadas pelo poder do Espírito, mudaram a história.

De modo inesperado, o Espírito desceu sobre eles em forma de línguas de fogo, como ouvimos no relato dos Atos dos Apóstolos, e “todos ficaram cheios do Espírito Santo”. O Espírito os encheu com o seu Amor, com o Amor de Deus, como nós cantamos na entrada: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo seu Espírito que habita em nós” (cf Rm 5,5). Este Amor os envia agora a toda a terra para proclamar as maravilhas de Deus, a boa nova do perdão dos pecados e do dom da vida divina.

Os Apóstolos são arrancados de seu medo e de sua timidez, abrem as portas do cenáculo, onde estavam trancados e escondidos, e começam a anunciar com toda a força e coragem as maravilhas de Deus. A multidão, confusa, os compreende em sua própria língua. Isso porque a linguagem do amor é universal, rompe as barreiras das diferenças e das distâncias, estabelecendo as pontes da comunhão e da fraternidade, que brotam do seio da Trindade. Isso nós temos visto e também participado nas últimas semanas aqui em nosso Estado. Quantas iniciativas de solidariedade, de ajuda gratuita ao próximo, que manifestação de amor. Essa linguagem é compreensível para todos.

O milagre das línguas não é secundário no relato; é mais uma prova do amor de Deus. O que acontece aqui é o inverso do que se passou em Babel, como ouvimos na primeira leitura da Vigília desta noite (Gn 11,1-9). Em Babel todos falavam a mesma língua, mas, por causa de seu orgulho e por terem buscado a própria glória e não a de Deus, as línguas se confunde. O orgulho e o egoísmo provocam justamente isso: cada um fala a língua dos próprios interesses, rompendo a comunicação. Em Pentecostes, ao contrário, as pessoas entendiam o que os Apóstolos falavam, pois eles se tornaram instrumentos da voz de Deus, eles desapareceram, dando lugar a Deus, com coração simples, humilde, reconhecendo o próprio pecado. Não se trata mais de um desejo de autoafirmação, como na construção de uma torre que chegaria até as alturas dos céus, mas se edifica aqui em Pentecostes, os fundamentos do edifício da Igreja, sobre os alicerces da unidade.

Peçamos hoje ao Senhor que renove em nós esta fonte de Amor que borbulha em nosso interior desde o nosso batismo, a fonte do Espírito Santo. Que Ele sopre mais uma vez sobre nós dizendo: “Recebei o Espírito Santo”. Ele faz isso através da Palavra do Evangelho que é pronunciada sobre nós; Ele nos dá o seu Espírito a cada vez que comemos e bebemos de seu Corpo e Sangue de Ressuscitado. Ele renova em nós o seu Espírito a cada vez que pedimos: Vinde, Santo Espírito. Precisamos pedir esse Dom, incessantemente. Porque o mundo precisa de nosso testemunho de filhos de Deus, de homens e mulheres cheios do Espírito, cheios do Amor de Deus.

Sim, nossos irmãos e irmãos do Rio Grande do Sul precisam de nossa ajuda solidária, de nosso pão, de nossas roupas e de nossos bens repartidos. Mas eles precisam, sobretudo, de nosso testemunho e de nossa partilha do Amor de Deus que foi derramado em nossos corações. Eles precisam ouvir também que Deus faz maravilhas, que Ele é o Senhor da Vida, não da morte ou da destruição, e pode tudo renovar, como cantamos no Salmo: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai” (Sl 103).

Nós temos a missão de anunciar aos nossos irmãos que estão desanimados e tristes, que perderam sua esperança, sua fé, que o Senhor ressuscitado está junto de nós e não nos abandona. Que seu Espírito habita em nosso coração e nos fortalece para recomeçar, para retomar o caminho e reconstruir a vida.

Que a Virgem Maria, a Mãe do Cenáculo, interceda por nós, para que sejamos abertos, dóceis e disponíveis ao Espírito como ela foi, como foram os Apóstolos, para que sejamos, também nós, testemunhas audaciosas do Amor e da Misericórdia de Deus. Por isso peçamos: Vinde Espírito Santo!

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