HOMILIA NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA

(Lc 2,26-38)

P. Paulo DOMICIANO, OSB

A primeira leitura (Gn 3,9-15.20) nos remete ao jardim original da criação, o Éden, preparado por Deus para acolher a obra prima da criação, o homem e a mulher, criados à imagem e semelhança do Criador.

Em consequência do pecado, o homem é banido desse jardim e é obrigado a habitar o deserto que, em sua aridez, é símbolo da “não vida”, do “não ser”. O homem terá de vagar por esse deserto, que não é outra coisa senão a imagem do seu próprio deserto interior, fruto de sua falta de comunhão com Deus. Peregrinará em busca do paraíso perdido.

Como nos foi anunciado neste segundo domingo do Advento, uma voz fez-se ouvir em meio a este deserto: “Preparai o caminho do Senhor” (Mt 3,3). Deus vem ao encontro do homem neste deserto para transformá-lo em um novo jardim. Maria é a primeira e mais bela flor desse jardim regenerado. É o sinal de que o bem é mais forte do que todo a catástrofe do mal e do pecado.

Deus pode fazer este deserto germinar, pois para Ele nada é impossível. Assim como preparou o Éden, onde tudo estava em harmonia e direcionado ao seu louvor e a seu serviço, onde Ele podia passear e onde introduziu Adão, Deus quis preparar em Maria o novo Paraíso, também todo voltado para Ele, todo cheio de sua presença, “cheia de graça”, para acolher o novo Adão, seu Filho. É isso que a oração de hoje põe em nossos lábios: “Ó Deus, que preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, pela imaculada conceição da Virgem Maria”. Mas a oração continua: “preservando-a de todo pecado em previsão dos méritos de Cristo”. Maria é eleita por causa de Cristo; é nele que está a sua eleição.

São Paulo, na Carta aos Efésios, nos anuncia que esta eleição, por graça de Deus, se estende a todos nós: “Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor” (Ef 1,4). O que Deus realiza em Maria em vista da Encarnação, realiza em nós, como fruto do mistério Pascal de Cristo, porque fomos predestinados a sermos filhos, a sermos cheios de graça também.

Pelo poder de sua Páscoa, Cristo faz do mundo um jardim renovado, onde o encontro com Deus é possível novamente, como contemplamos na manhã pascal, quando Ele se encontra com Maria Madalena. Na Encarnação o encontro entre Deus e a humanidade acontece em Maria, este novo jardim criado por Deus, onde, diferente da primeira mulher, que disse “não” ao plano de Deus, ela diz “sim”, aceitando o encontro com seu Senhor e recebendo em seu seio o novo Adão, Jesus Cristo. É este fruto bendito de seu ventre que faz dela a nova Eva, a mãe de todos os viventes, no sentido mais pleno. Esse encontro é a prefiguração do Encontro da manhã de Páscoa e do Encontro que Deus deseja para cada um de nós, seus filhos.

Na Eucaristia o Senhor vem até nós e transforma cada um em seu jardim para acolher o Novo Adão, o Cristo. Como fez com Maria, o poder do Altíssimo nos cobre com sua sombra e o Mistério da Encarnação se renova em cada um de nós também.

Que a exemplo da Virgem Maria, não tenhamos medo, como Adão e Eva que disseram “não” ao plano de Deus e se esconderam de sua face, mas sejamos abertos, dizendo nosso “sim”, “eis aqui o servo (a) do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”.

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