HOMILIA DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR – A

D. Paulo DOMICIANO, OSB

A introdução da celebração de hoje, que abre a grande Semana Santa, nos oferece o sentido destes ritos que realizamos: “Hoje aqui nos reunimos e vamos iniciar, com toda a Igreja, a celebração da Páscoa de nosso Senhor. Para realizar o mistério de sua morte e ressurreição, Cristo entrou em Jerusalém, sua cidade. Celebrando com fé e piedade a memória desta entrada, sigamos os passos de nosso salvador para que, associados pela graça à sua cruz, participemos também de sua ressurreição e de sua vida”.  Ou seja, a Igreja faz “memória” dos últimos acontecimentos da vida de Jesus, dos momentos e dos lugares onde se desenrolaram as ações realizadas por Ele naqueles dias para deles tomar parte através da liturgia.

Os ritos que realizamos na liturgia durante estes dias não são uma encenação, um teatro dos últimos acontecimentos da vida de Jesus relatados no Evangelho, que realizamos como tradição do passado ou folclore para despertar em nós sentimentos piedosos. São, ao contrário, a atualização do mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor, para que possamos nos associar a eles. “O convite às celebrações não serve para lamentarmos a morte de Jesus, mas para regozijar-nos pela libertação ofertada ao dar-nos sua vida” (fr. Luiz Felipe). É sempre a celebração de um único mistério, na qual, como proclamamos, “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, enquanto esperamos a vossa vinda!”

Esta introdução da liturgia de hoje nos exorta a uma participação ativa e consciente do que vamos celebrar durante esta grande Semana. Não é suficiente “fazer”, mas é preciso “viver” os ritos que vamos celebrar, para que os frutos da paixão, morte e ressurreição de nosso Senhor possam despontar em nós, na Igreja e no mundo.

Toda a liturgia desses dias nos coloca entre dois polos, que correspondem ao duplo aspecto do mistério pascal: da morte e ressurreição de Cristo; o cortejo que aclama Cristo Rei e a solene proclamação da Paixão. Não podemos celebrar apenas a sua paixão e morte separadas da ressurreição, pois Ele está vivo para sempre. A celebração de hoje celebra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém e a seguir nos introduz no relato da sua paixão e morte. Do mesmo modo, na quinta-feira santa, celebraremos o dom da instituição do sacerdócio e da eucaristia e entramos no mistério do sofrimento e agonia de Jesus no jardim das Oliveiras. Mesmo na sexta-feira santa, faremos memória de sua morte, mas já proclamaremos a sua vitória sobre a morte. 

Jesus entra em Jerusalém hoje e é aclamado como rei e messias. Ele entra para proclamar o seu reino: “quanto eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”. Deste modo, a benção dos ramos que realizamos, em si, é secundária em relação à procissão que realizamos. Pois este ato litúrgico nos coloca em marcha, como aqueles que seguiam Jesus, para entrarmos com Ele em Jerusalém, que hoje é a Igreja, para com Ele vivermos o mistério de sua Páscoa. Esta Jerusalém é também o nosso coração, que precisa abrir suas portas para acolher o Rei Jesus, para com Ele viver este mistério de amor, de sacrifício de si, para acolher a vida nova que Ele oferece.

A proclamação da paixão vai guiar toda a nossa semana e nos introduzir no mistério da cruz, que adoraremos na sexta-feira. Mas também o canto do salmo 21: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste” – juntamente com o cântico de São Paulo aos Filipenses, hoje proclamado na segunda leitura e cantado como aclamação ao evangelho, nos fazem penetrar mais profundamente na realidade do abaixamento e esvaziamento de Cristo, que “se fez obediente até a morte” para nos resgatar e nos introduzir na plenitude da vida nova de ressuscitados.

Ouçamos o convite que nos foi feito para iniciarmos a procissão – “imitando o povo que aclamou Jesus, comecemos com alegria a nossa procissão” – e o acolhamos como um convite para entrarmos na celebração da Páscoa do Senhor, seguindo seus passos até a cruz, para com Ele ressuscitar para uma vida nova.

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